|
||||||||||
Curiosidades |
||||||||||
O núcleo fabril de Pedra foi construído entre 1912 e 1917, no sertão de Alagoas pelo comerciante e industrial Delmiro Gouveia. Em Pedra havia 250 casas, escola, hotel, cassino (onde se realizavam danças e sessões de cinema), banda de música, pista de patinação, carrossel e campo de futebol. Em Pedra, a fábrica não se encarregava diretamente do comércio. Controlava, no entanto, rigidamente seu horário de funcionamento, o tipo de mercadoria oferecida e as despesas dos operários. Havia uma feira, realizada durante algumas horas do domingo, um armazém, uma padaria, um açougue, uma farmácia e uma loja de tecidos.
O cotidiano dos moradores do núcleo era controlado com rigidez pelo patrão. Tratados como problema de ordem pública, os rapazes solteiros sem família em Pedra, moravam fora do núcleo e estavam proibidos de freqüentar as casas das famílias
Em Pedra, o plano colocou-se como o ponto de partida de um amplo esforço realizado por Delmiro no sentido do controle e do recondicionamento fisico e mental dos moradores. As baixas densidades, os grandes vazios e a regularidade das construções foram as caracteristicas definidoras desse plano. O baixo valor da terra em plena caatinga não criava entraves à dispersão desejada. Os blocos de casas se espalhavam, dando lugar a ruas largas, generosas vias sanitárias, amplos quintais e vastas extensões de terras desocupadas. Apenas a rua 13 de Maio tinha casas de ambos os lados. Todos os demais blocos de casas abriam-se para espaços vazios. A legibilidade foi uma marca da ordem espacial de Pedra. Seus amplos blocos de casas padronizadas definiam ruas retas e largas, ao mesmo tempo grandiosas e singelas. Outro importante definidor do plano parece ter sido a busca de visibilidade a partir da ferrovia. A fábrica, a casa do industrial, o rinque de patinação e os primeiros blocos de casas construídos dispunham-se à margem da Estrada de Ferro Paulo Afonso. As casas eram de alvenaria, revestidas com reboco, caiadas, cobertas de telhas de barro do tipo canal e tinham piso de tijolo. Estavam agrupadas em compridos blocos de residências térreas conjugadas, com um amplo alpendre percorrendo as fachadas, o qual remete a modelos de senzalas no Brasil, a moradias dos índios nas missões dos jesuítas próximas aos guaranis e a moradias de trabalhadores em usinas de açúcar no Nordeste do Brasil. As casas-padrão, em Pedra, compunham-se de cinco vãos: duas salas, dois quartos e cozinha, além de sanitário no fundo do quintal. A exigüidade dos quartos, em face do tamanho médio das famílias, fazia com que as salas fossem convertidas à noite em dormitórios, sendo providas de armadores para redes. A cozinha situava-se em um alpendre nos fundos da casa. Funcionava como área de transição entre a casa e o quintal. Área suja, com fogo de lenha e molhada pela manipulação de água e líquidos, era colocada quase fora da casa. Totalmente afastado ficava o sanitário, situado no fim do quintal. Desprovido de água encanada, esgoto e fossa, era tratado como espaço a ser isolado e escondido. Algumas dessas casas sofreram ampliações de modo a abrigar famílias maiores. As casas maiores, destinadas a funcionários mais graduados, contavam com cinco quartos (entre os quais uma alcova), três salas, cozinha, despensa e dependências. Sua localização nas esquinas permitia a existência de jardim interligado ao quintal. Dotadas de água encanada e instalações sanitárias, essas casas tinham a cozinha e o banheiro integrados ao seu espaço.
Pedra despertou admiração e entusiasmo em visitantes letrados de seu tempo, entre os quais se situam Oliveira Lima, Eugênio Gudin, Oliveira Viana, Saturnino de Brito e Assis Chateaubriand. Ao mesmo tempo, em que firmava-se o mito de Delmiro Após a morte de Delmiro Gouveia em 1917, o núcleo fabril praticamente não sofreu ampliações. Nos anos vinte uma igreja foi acrescentada. A casa que serviu de residência ao sócio de Delmiro, Lionello lona, foi ocupada da década de 1920 à de 1940 pelo então proprietário da fábrica, Vicente de Menezes. Após a morte deste, a casa passou a abrigar um posto de saúde e posteriormente foi demolida. A casa ocupada por Delmiro foi reformada e transformada em casa de hóspedes da fábrica. Em 1961 a fábrica fundou um clube. A partir da década de 1960, quando a fábrica pertencia à família Menezes, as casas começaram a ser vendidas aos operários no âmbito de acordos trabalhistas envolvendo indenizações por tempo de serviço. No final da década de 1990 o prédio do Cassino foi inteiramente reformado para abrigar a rádio Delmiro AM e FM, de propriedade dos donos da fábrica. Fora dos limites das propriedades da fábrica, do lado oposto aos trilhos do trem, a povoação denominada Pedra Velha, ampliou-se progressivamente. Em 1952, Pedra foi desmembrada da cidade de Água Branca, convertendo-se em sede de um novo município, batizado de Delmiro Gouveia.
|
||||||||||
Biografia
1861 - dezembro - Nasce Maria Augusta, irmã de Delmiro Gouveia.
1863 - 5 de junho - Nasce na fazenda Boa Vista, do município de Ipu, diocese de Sobral, Ceará, filho natural do cearense Delmiro Porfirio de Farias e da pernambucana Leonila Flora da Cruz Gouveia, Delmiro Augusto da Cruz Gouveia.
· Delmiro Gouveia foi batizado na Vila de Santa Quitéria.
1867 - dezembro - Morre o Major Delmiro Porfirio de Farias, pai de Delmiro Gouveia, vitimado por ferimentos durante a Guerra do Paraguai, numa emboscada à margem do arroio Caimbocã.
1868 - A família de Delmiro se transfere para Pernambuco, fixando-se em Goiana, e quatro anos depois no Recife.
1878 - 6 de outubro - Leonila Flora da Cruz Gouveia, mãe de Delmiro, casa com o advogado Dr. José Vicente Meira de Vasconcelos.* 7 de outubro - Falece no Recife-PE Leonila Flora da Cruz Gouveia, mãe de Delmiro Gouveia.
* Delmiro Gouveia começa a trabalhar como bilheteiro na estação de trem de Olinda, Pernambuco. Nesta época tinha apenas quinze anos de idade.1880 - Exerce o primeiro posto de responsabilidade, como despachante de barcaças, após ter sido bilheteiro.
1883 - 28 de agosto - Já interessado na compra, para exportação, de peles de bode e ovelhas, o que o leva ao interior de Pernambuco, casa com Anunciada Cândida de Melo Falcão, a Iaiá, na cidade de Pesqueira.
* Aos 22 anos de idade, passou Delmiro a trabalhar na firma compradora de couros e peles Levy & Cia., do Recife.
1886 - Fixando-se no ramo de couros, passa a trabalhar, por comissão, para o sueco Hermann Lundgren e também por conta própria.
1888 - 16 de dezembro - Inaugura-se o “Derby Club” “, no Recife.
1891 - Funda, com um amigo de origem inglesa, a Levy & Delmiro, empresa especializada no
comércio de peles.
1896 - No Recife, funda a Casa Delmiro Gouveia & Cia, passando a alijar os concorrentes do Mercado, cujos melhores empregados especializados aproveita, a exemplo de Lionelo lona, John Krause, Guido Ferrari e Luiz Bahia.
1897 - Já ligado á poderosa casa nova-iorquina J.H. Rossbach & Brothers, que lhe seria de grande fidelidade ao longo da vida, excursiona longamente pela Europa com a esposa. Era, então, “O Rei das Peles”, tendo ocupado a presidência da Associação Comercial de Pernambuco. A nata social e artística da região se encontrava nas recepções suntuosas que promovia nos salões da Vila Anunciada, em Apipucos, sua residência.*Delmiro Gouveia tornou-se proprietário da “maior refinação de açúcar da América do Sul”, a chamada Usina Beltrão.
1898 - Á frente da Usina Beltrão (prédio da atual Tacaruna), de refino e embalagem de açúcar, contrata com o prefeito Coelho Cintra, do Recife, a construção de um mercado modelo sem similar no Brasil, aproveitando as terras abandonadas do Derby Club.
1899 - 7 de setembro - Voltou da Exposição Universal de Chicago com a idéia de construir um Mercado modelo onde se pudesse encontrar de tudo. O mercado do Derby não demorou a ficar pronto. Era o primeiro estabelecimento comercial da capital pernambucana com energia elétrica, que vendia produtos pela metade do preço e funcionava 24 horas por dia. Também contava com hotel, parque de diversão e restaurante.* Os preços baixos do Coelho Cintra incomodavam a concorrência, abrindo dai desentendimento com o então prefeito Esmeraldino Bandeira e, em decorrência, conflito em que se envolve, no Rio de Janeiro, com o todo-poderoso da política pernambucana, o presidente do senado e vice-presidente da República Francisco de Assis Rosa e Silva.
*17 de junho - Em plena rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, Delmiro Gouveia aplica algumas bengaladas no então vice-presidente da República, Rosa e Silva.
1900 - 2 de janeiro - O Mercado do Derby, construído por Delmiro, foi incendiado. Delmiro e seu sócio Napoleão Duarte foram presos e ficaram incomunicáveis.
1901 - Perseguido e com o casamento abalado, refugia-se por um ano na Europa, passando maior parte do tempo na Itália.* 31 de janeiro - Após retorno da viagem à Europa, Delmiro tem uma discussão com seu sócio-administrador Napoleão Duarte, que lhe desfechou um tiro de revólver, ferindo-o sem gravidade. Estava desfeita a sociedade Gouveia & Cia.
1902 - 20 de setembro - Delmiro Gouveia, aos 39 anos, rapta a menor Carmélia Eulina do Amaral Gusmão, filha do desembargador Segismundo Antônio Gonçalves.
* O Banco do Recife decreta a falência da firma Silva, Cordeiro e Cia. Sua dívida era de mais de 1,7 contos de réis.
* novembro - Delmiro chega a Água Branca, onde é recebido pelo então senador e Coronel Ulisses Luna.
1903 - março - Delmiro Gouveia fixa residência em Pedra, povoado pertencente à cidade de Água Branca.
* Quando Delmiro chegou a Pedra, só existiam seis modestas casas residenciais e a estação da via férrea.1904 -10 de fevereiro - Nasce Noêmia Gouveia, filha mais velha de Delmiro Gouveia e Eulina.
* 21 de maio - Delmiro foi preso na estação da Pedra pelo Tenente João Isidoro, oficial da policia de Pernambuco, que o supunha condenado pelo rapto da menor Carmélia Eulina. Mediante recurso ao Supremo Tribunal, impetrado pelo advogado Dr. José Vicente Meira de Vasconcelos, padrasto de Delmiro, a este já havia sido concedido habeas-corpus.1905 - 27 de abril - Nasce Noé Gouveia, único filho homem de Delmiro e Eulina.
1907 - 12 de julho - Nasce Maria Gouveia, terceira e última filha de Delmiro e Eulina.
1908 - Maria Augusta, irmã de Delmiro, vem morar em Pedra, a convite do irmão. Maria Augusta também era conhecida como D. Maroca.
* Chega em Pedra Adolfo Santos, a fim de assumir o lugar de chefe de escritório da lona & Cia.
1909 - 1910 -Delmiro Gouveia atrai a Pedra, para estudos no rio e na cachoeira, a missão americana chefiada por Mr. Moore.
1911 - Pernambuco realiza eleições para governador. Vence as eleições o general Dantas Barreto, pondo fim ao domínio rosista.
* Fracassam as negociações de Delmiro com o governador de Pernambuco, o general Dantas
Barreto, no sentido de eletrificar o Nordeste com energia gerada por Paulo Afonso.
* 31 de maio - Através do Decreto n.º 8.573, o Governo Federal concede aos engenheiros Francisco Paula Ramos e Hans Hocker, de São Paulo, autorização para utilização da energia hidráulica da Cachoeira de Paulo Afonso.
1912 - Registro da Companhia Agro-Fabril Mercantil, no Recife.
1913 - 26 de janeiro - Uma bomba centrífuga de 150 cavalos-vapor impulsionava, através de mais de 24 quilômetros de canos importados da Alemanha, água do São Francisco, cuja ausência constituía o obstáculo principal à concretização dos empreendimentos de Delmiro Gouveia na povoação de Pedra.
* 24 de junho - Inaugurava-se em Pedra o serviço de iluminação elétrica, pública e particular, distribuída gratuitamente.
1914 - 5 de junho - Inaugurada a Fábrica de linhas que, com a marca nacional Estrela e, estrangeira, Barrilejo, muito cedo dominaria o mercado nacional, impondo-se fortemente nas praças argentina, chilena e peruana, sobre o similar estrangeiro.
* Introduz o automóvel no sertão.
* 10 de outubro - O então governador de Alagoas, Clodoaldo Fonseca, baixa decreto de n.0 732, abrindo crédito a Delmiro Gouveia como ajuda ao mesmo pelos gastos na construção de estradas. Cinqüenta contos de réis.
1915 - Inauguram-se grandes estabelecimentos e funda-se a feira de Pedra. No dia da feira, suspendia-se uma bandeira às 11 horas, anunciando o início; antes dessa hora, era proibido vender até uma caixa de fósforo.
1916 - A Fábrica de linhas da Pedra intensifica ainda mais a produção, tendo com a linha “Barrilejo” afirmado seu nome no estrangeiro, com as primeiras exportações feitas para a Argentina, Chile e outros países dos Andes.
* Inaugura-se a estação telegráfica de Pedra.
* Comitiva do então governador de Pernambuco,
Manoel Borba, visita a Pedra.
* 20 de dezembro - Delmiro Gouveia faz seguro de vida em beneficio dos três filhos.
1917 - 10 de outubro - Morre, assassinado a bala, aos 54 anos de idade, em seu bangaló da Vila da Pedra, hoje cidade de Delrniro Gouveia. Três tiros a queima roupa acabaram com o sonho de cobrir o sertão de máquinas.
· Quando Delmiro morreu, Pedra tinha cerca de 4 mil habitantes.
1918 -12 de outubro - O jornal “O Correio da Pedra”, dirigido por Adolfo Santos, teve seu
primeiro número em circulação, permanecendo até 1930.
* É inaugurada a Capela de Nossa Senhora do Rosário.
1925 - Lionelo Lona é afastado da direção da Cia. Agro Fabril Mercantil, desaparecendo do País para sempre. Os herdeiros de Delmiro assumem a frente dos negócios, através do seu filho Noé Augusto Gouveia.
1926 -17 de julho - O presidente Artur Bernardes baixa o Decreto n.º 17.383, aumentando a taxa de importação sobre a linha de coser, de 2 para 10 mil réis por quilo. Era um decreto para proteger a indústria nacional.
1927 - Com autorização do Sr. Juiz de Água Branca, os filhos de Delmiro vendem a Cia. Agro
Fabril Mercantil aos Senhores Menezes, Irmãos & Cia; pela quantia de 3. 600 contos de réis.
1929 - 2 de novembro - Em Paislay, Escócia, firmou-se acordo entre a Machine Cotton e a Companhia Agro-Fabril Mercantil, pelo qual esta lhe vendia por 27.000 libras a sua fábrica de linhas, com maquinismos e acessórios.
1930 - abril - Na vila da Pedra, os maquinismos eram lançados no penhasco do São Francisco, suplantando a idéia do pioneiro de desenvolver o Nordeste. Era a vitória do Truste Escocês.
1937 - 2 de janeiro - Morre em Pesqueira-PE Anunciada Cândida Falcão Gouveia, primeira esposa de Delmiro.
1954 - 22 de junho - Morre aos 67 anos de idade Eulina do Amaral Gusmão, segunda esposa de Delmiro e mãe de seus três filhos.
1955 - março - Luiz Gonzaga e Zé Dantas, figuras exponenciais da Música Popular Brasileira, gravam o baião “Paulo Afonso”, enaltecendo o empreendimento criado por Delmiro Gouveia.
1977 - 3 de novembro - Falece no Rio de Janeiro Maria Augusta, filha de Delmiro Gouveia.
1989 - 20 de fevereiro - É inaugurado o Museu Delmiro Gouveia.
1992 - 30 de junho - O Grupo Carlos Lyra, de Alagoas, adquiriu o controle acionário da Multifabril Nordeste S/A, mudando a denominação da firma para Fábrica da Pedra S/A- Fiação e Tecelagem.
1993 - 2 de julho - Falece Dr. Ulisses Luna, ex-prefeito do município de Delmiro Gouveia e afilhado de Delmiro.